Textos
E é aqui minhas queridas pessoinhas que vamos encontrar os textos inéditos de autoras, das nossas blogueiras. Esses textos são mini contos de todos os gêneros, desabafos, poesias ou mesmo frases de incentivo, tudo feito com muito amor e carinho especialmente para vocês.
Tema: Dia dos namorados
Milagres do Amor
Toda doença quando temos
De cura necessitamos,
Dum milagre ao menos
Ou de um abraço em tamanho.
Vaguei só por muito tempo
Isolada na lacúnia dum quarto,
Anêmica fiquei, eu penso
Redarguindo o dia amargo.
Mas, como tudo na vida passa,
Num passear da estrada avistei você
E, ao te conhecer dei primeira marcha,
Quebrei o lugar do meu eu para o amor à ti oferecer.
A lua sempre amei
A sua beleza e brancura,
Porém, seu nome saber me fez
Que se parece a ela, limpa e pura.
Se se me sondasse até
Saberias como sente minha alma,
Ela encontra-se sã e salva;
Vejas, quem ama tem fé!
Um remédio para mim foi o amor,
O coração deserto, agora está regado;
Tolerei seus erros e em seu lugar quis me pôr,
Em Deus sou feliz contigo, meu namorado.
Rayane Pazini
Tema: Halloween
Noite de Samhain
Eu e mais doze irmãs. O círculo das treze estava formado. Preparamos o ritual nesta noite tão
especial. Em meio à floresta, tínhamos somente a lua cheia por testemunha nesta noite atípica.
A noite mais mágica do ano, em que as forças ocultas do universo se manifestam... Estariam em
breve abertos os portais entre o nosso mundo físico e o mundo imaterial, o mundo dos espíritos
ao qual esperávamos acessar... O mundo onde estavam nos aguardando nossas ancestrais, outrora
perseguidas e caçadas.
Entoávamos nossos cânticos, a lua no céu nos dava toda energia que precisávamos, o fogo não
apenas clareava o ambiente como também ajudava a nos revitalizar o espírito. As ervas que
jogávamos nele serviam para que seus odores místicos nos fizessem relaxar e ajudassem a conter
nossa ansiedade.
Já era quase madrugada quando além de cantar dançavamos frenéticas em volta do fogo... As
ervas e todo aquele calor nos haviam ajudado a chegar naquele clímax... Havíamos tirado nossos
mantos e dançavamos nuas, como faziam outrora nossas ancestrais...
Nós agora fazíamos alegremente parte da natureza à nossa volta e de todo aquele ambiente
selvagem... Nos sentíamos totalmente fundidas à tudo aquilo enquanto realizávamos nossa
dança, em volta do fogo e totalmente livres para expressarmos todo nosso poder.
Foi quando, ouvimos um som inusitado entre as árvores, para além de nossas próprias vozes.
Paramos todas no mesmo instante.As mais experientes exibiam um largo sorriso, as mais novatas
- eu dentre elas - olhávamos ao redor meio desconfiadas.
Meu coração deu um solavanco à medida que uma arrepiante luz verde se fez presente advinda
do negro da escuridão da floresta... Como se de repente aquele espaço entre uma árvore e outra
fosse iluminado por uma fogueira como a nossa, porém de chamas verdes. Era um brilho
magnífico e hipnótico... Finalmente o portal para os outros mundos estava aberto e dele muitos
mistérios ainda se fariam presentes naquela noite de Samhain.
Fernanda Miranda
Tema: Natal
Nas entranhas da Realidade
-é Natal, Greg! É Natal!
-eu sei disso! Já disse que estou indo!
-o portal vai se fechar em breve. Você não pode perder a festa. É lá que irá encontrar seu ajudante.
-entendo, entendo. Só não sei porque tenho que ir parecendo um mendigo!
-você ouviu a Aurora. Ela viu tudo. Ela sabe como vai acontecer. Você deve ir assim.
-posso pelo menos tomar banho?
-infelizmente não, senhor - disse,conduzindo-o até o portal. Irão suspeitar.
-suspeitar!? Eles nem ligam pros mendigos! São uns esfarrapados, invisíveis! - levantou o braço direito com o indicador para cima, em protesto, enquanto dizia, quase gritando.
-certo, certo. Tome, vai precisar disso também - entregou a ele um saco de pano gasto.
-pra que isso?
-ora, como você vai voltar?
-ah, é verdade! - o saco de pano não era apenas mais um saco comum. Através dele poderia voltar ao seu mundo. Era sua única porta de saída da realidade.
-assim que passar pelo portal, ele sumirá. Você irá contar apenas com este saco, então não o perca. Não temos energias vitais para abrir mais um portal, não iremos atrás de você caso se meta em enrascada,ouviu!?
-com quem acha que está falando, Guto? - novamente levantou o braço apontando o indicador para cima, em protesto - Eu sou o temível, o terrível, o invencível. Aquele que domina por onde passa e que a todos seus inimigos ameaça! Ninguém deve me desobedecer! Eu sou o Grande... - antes que concluísse, Guto o empurrou portal adentro, mas antes que a abertura se fechasse, enquanto mergulhava no infinito, ouviu sua voz dizer, cada vez mais distante: “Ô velho chato!”. Nos próximos minutos,Greg pensaria numa forma de castigar o ajudante quando voltasse.
...
Depois de cinco minutos de puro tédio,o velho sentiu as costas baterem com força contra o chão frio do asfalto. Era noite, provavelmente mais de duas horas da manhã. Só quando se levantou tomou conta do ocorrido, o portal havia sido aberto a dois metros do chão, horizontalmente, no meio de uma avenida!
Hallyson Willyan
Tema: Dia dos namorados
Perfume
Aquela moça passou por mim na Paulista.
Eu não sou o tipo de pessoa que costuma reparar no que se passa a minha volta. Sempre tão distraído num mundo que costumo chamar de meu, não percebo o que a realidade mostra aos tediosos e sem sonhos na cachola.
Consolo-me em saber que aqueles que não compraram seu ingresso para o mundo dos pensamentos vivem a vida real por mim, para que eu, em meu agraciado silêncio contemplativo, possa continuar em meu caminho de tijolos dourados. Mas às vezes, e só às vezes, a realidade costuma me pegar pelos ombros e me chacoalhar, como uma mãe faz na hora mais gostosa de um sonho.
No meu caso, o tapa não doeu, na verdade foi uma luva suave, um acariciar na face que me fez abrir os olhos por um instante, só para fechá-los em seguida, no intuito de sentir, com toda a minha essência, aquele perfume tão delicado.
Não tinha um cheiro de rosas, eu detesto rosas, mas era suave, como morango e creme, uma brisa fresca numa tarde de sol frio que nos arrepia um pouco a pele, talvez fosse uma fragrância com um toque de alívio, como tomar um copo com água no calor, tinha um “quê” de segredo, como amantes que se encontram às escuras, havia violetas e carinho e no fundo um tom picante de canela.
Quando abri meus olhos, automaticamente olhei para trás a procura da musa que passeava entre os mortais, a moça que fora capaz de me trazer do meu esconderijo. Queria poder olhar para ela, ver seus belos olhos e o cabelo sedoso esvoaçando ao sabor do vento. Se ela vira-se um pouco o rosto para trás para vislumbrar o efeito de seu feitiço, seus olhos se encontrariam com os meus, haveria um segundo de rubor e minha bela perfumada baixaria o rosto, envergonhada.
Eu iria até ela, totalmente rendido, e lhe convidaria para um café, ela não aceitaria de imediato dizendo estar ocupada, lhe daria então o meu melhor sorriso e receberia em troca um tímido curvar de lábios. E que lábios seriam! Não tão finos, nem tão grossos, mas belos, com um suave vermelho a se espalhar por sua extensão.
E o que dizer de seus olhos? Iluminados com uma luz apaixonante, quentes e carinhosos, acolhedores na hora de amar.
Mulher difícil aceitaria meu café apenas depois de avaliar-me bem. Eu pagaria o café a fim de ouvi-la falar sobre o seu mundo. Trocaríamos telefones, eu ligaria primeiro, ela seria misteriosa ao falar, mas apenas pra me deixar curioso. Descobriríamos coisas em comum, ignoraria os gostos diferentes. Ela falaria de músicas, livros e filmes que eu nunca vi. E eu iria à loja no dia seguinte para comprá-los.
E nesse meio tempo nos encontraríamos para outros cafés, eu lhe contaria sobre o meu trabalho, minha vida solitária de São Paulo, ela falaria de seu apartamento, das flores que cultiva na janela, contaria do seu cachorro com nome do vocalista de sua banda favorita.
Eu sentiria uma falta absurda dela nos dias que não pudéssemos nos ver e ela me mandaria mensagens pequenas e carinhosas, mostrando que também sente saudades. Eu a levaria para jantar, ela me daria um beijo e eu diria que a amava.
Passaríamos os fins de semana juntos, tentaria não dormir nos filmes românticos e secaria suas lágrimas enquanto ela murmurava uma desculpa por ser uma boba apaixonada. Iríamos ao parque nos sábados de manhã para passear com o cachorro e faríamos um piquenique na beira do lago.
Eu a apresentaria aos meus amigos, que fariam piadas dizendo o quanto estou mudado.
No natal, viajaríamos para o interior para que eu me apresentasse a sua família, ficaria envergonhado e sorriria muito. Ela conheceria minha mãe e as duas se tornariam inseparáveis.
No ano novo a pediria em casamento. E ela diria sim, com os olhos cheios de lágrimas. Passaríamos o ano correndo com os preparativos, brigaríamos na hora de decidir detalhes, ela choraria e cortaria meu coração. Eu compraria rosas, porque sei que ela gosta, e lhe entregaria pedindo desculpas. Ela me abraçaria com carinho dizendo que não brigaríamos mais e eu concordaria, mesmo sabendo que dali a uma semana teria que comprar mais rosas.
Nós diríamos: Sim, aceito. Eu colocaria uma aliança em seu dedo e ela estaria comigo para o resto da vida.
Mas ela não olhou para trás e eu nunca consegui contemplar o rosto de minha dama perfumada. A garoa do início da noite começou na Paulista e apagou a suave fragrância.
Segui o meu caminho.
Rissa Rodrigues
Tema: Natal
Natal Travesso
Foi no dia vinte e cinco
Em que ela apareceu
Deu três socos na porta
Todo mundo estremeceu
Fez a luz da casa cair
Tudo ali virou um breu
A família se borrava
E eu nem sabia o que fazer
As crianças já berravam
Imaginando o que poderia acontecer
Duas delas desmaiaram
Pelo medo da menina aparecer
Foram logo socorridas
E levadas pra cozinha
Mesmo estando no escuro
Já que luz a casa não tinha
Com certeza falariam
Que a culpa daquilo era minha
Isso porque duas semanas antes
Uma menina na porta de casa apareceu
Pedindo um pouco de dinheiro
Alegando que o pai morreu
Estava sem se alimentar
Já que também a mãe faleceu
Queria passar ao menos o Natal
Sem a barriga vazia
E lembrar a morte dos pais
Lhe trazia agonia
Peguei uma sacola com pães
E entreguei a guria
Mas agora ela atormentava
Batia na porta, pisoteava o telhado
Sujava as paredes de lama
Pra completar o cenário
Fui lá fora e a vi pegando o pinscher pelo pescoço
Enforcando o coitado
Tratei logo de correr em direção a menina
Com um cabo de vassoura que havia na cozinha
Minha intenção não era batê-la
Mas ao menos enxotá-la
E salvar o cachorrinho ao qual ela sufocava
Logo que me viu
Num reflexo pulou
Voou três metros acima
No telhado aterrissou
Antes que me desse conta
Uma telha me acertou...
O que era para ser
uma noite de Natal
Aquela hora converteu-se
Num terror sem igual
Com a cabeça sangrando
Tombei, num gemido gutural.
Acordei horas depois
Dentro de um hospital
Com vários pontos na testa
E a lembrança abissal
Da menina assustadora
Que estragou nosso Natal
Era mais de meia noite
Quando saímos do hospital
Minha cabeça latejava
Numa dor descomunal
Entramos no carro e voltamos
Para a "cena criminal"
Hallyson Willyan